Capítulo 1 - Vapor & Arcanina

"Pode deixar a cidade inteira submersa em neblina?" pergunto para Gwen, ainda olhando para o mapa.

"Da Malha de Ferro, quantos lutam corpo-a-corpo? Não serei de utilidade em combate a longa distância, mas posso me juntar ao combate próximo"

Deixo todos conversando sobre o plano, parece que iamos realmente seguir a minha ideia.

Desço as escadas e confiro se Megan já acordou e caso já o tenha, procuro algo para ela comer.

Desmond sabe que no mesmo local onde está a Epoch, existe uma oficina de alquimia, com pouco material, mas o bastante para exercer seus planos.
Através das táticas e conversas, vocês sentem que, pela primeira vez, parecem um grupo de verdade. Tantas diferenças, tantas experiências e vidas díspares reunidas num mesmo lugar, sob o véu de um mesmo objetivo. Seus corações ansiavam pela verdade e pela libertação... e vocês sabiam que teriam de lutar por aquilo.
O aroma adocicado do café de Audrey na cozinha inunda a casa, e seus estômagos roncam audivelmente. A última refeição rasa da maioria havia sido na noite anterior, e vocês não sabiam quando comeriam novamente.
O plano estava traçado, parecia bom. As bombas ácidas de Desmond, os entulhos e as termopilas de N, as artes mágicas de Gwen e Dakato e a capacidade explosiva de Audrey...o cheiro de aventura se mescla ao odor do medo, e isso faz seus corações acelerarem.

- P-papai...- Megan caminha até N, esfregando os olhinhos sonolentos. - Também quero ajudar. Eu não vou deixar você sumir de novo.
A cena lhes remete a família, e isso assalta a mente de Audrey. Ninguém havia lhe procurado...como estaria a situação em Arsin? Seus pais haviam desistido dela? Não, aquilo era doloroso demais...e por mais que a diferença entre você e sua família seja muito grande, o sentimento de saudade lhe aperta o peito enquanto toma seu café.

Era hora de mexerem.

- Não... uma pequena área... - Respondo a N, antes que o mesmo saísse. Então volto a atenção aos demais. - Então, posso ir leva-los ao abrigo ? Quanto antes eu for melhor.... Ainda mais pois terei que ter cuidado para que não desconfiem que seja parte de um plano, afinal, pode haver agentes duplos passando a movimentação para os soldados..

Novamente, a sensação de divindade corre pelo corpo de Gwen, uma sensação semelhante ao arrepuo por esta sendo observada por algo muito, muito grande. A druida sente que há algo especial na Cidade das Pobres Almas...mas não sabe dizer o que é. Era como se ela fisse um peixe em um lado, e as águas dançassem ao seu redor, num fluxo reconfortante...e esse fluxo, ela sabia, era magia. E ela parecia estar por toda parte.

"Eu tenho uma missão pra você, Meg. Mas primeiro vamos tomar o café da manhã" sorrio e a pego no colo.

Procuro por comida nas prateleiras para nós dois enquanto falo com ela.

"Ainda tem sua kunai? Sabe, a Gwen, a dona do tigre, vai levar os civis pra um esconderijo. Você vai junto e fica lá, para manter a ordem, que tal?" digo, esperando que ela aceite ficar no local seguro.

"Papai tem de lutar mais uma batalha, mas não se preocupe, não vou sumir"

Sinto novamente aquela sensação. Passo de leve e discretamente a mão pelo braço com o arrepio. A curiosidade crescia conforme passava cada minuto ali, precisava descobrir o porque a magia era tão forte ali e se tinha alguma coisa haver com a tal relíquia, e se principalmente tal poderia ajudar com a batalha. Porem aguardava a finalização do plano.

O café escorre quente em minha garganta, aliviando um pouco a fome e me despertando. Abro o diário onde havia parado, em cima da mesa, para dar continuidade aos registros:

"Hoje é meu segundo dia. Durante a noite sonhei com minha família, naquele aniversário de Kateryn... sonhei com Cornelius, o achado da minha pistola... tudo foi muito rápido e dolorido. Eu não sabia que memórias doíam tanto.
Kateryn passou o resto do ano chorando pela sua festar ter sido estragada e, de quebra, as luvas de seda que havia ganhado de um alfaiate muito famoso de Arsin. Ela seria apresentada ao seu pretendente no continente superior, Eric Elwood, três anos mais velho que Kateryn e ótimo na esgrima. Mas devido à confusão que aquele homem rechonchudo e de pouca estatura ocasionou na festa, os dois vieram a se encontrar uma vez em uma apresentação das irmãs Andynis, damas do burlesque no teatro Moulin, mas não puderam conversar. Seria o que chamam de "Quebra de protocolo" e damas devem seguir à risca.
Mais tarde, se encontraram ali, sentados em uma mesa próxima da escada de onde eu desceria e seria apresentada para a sociedade. Também me foi apresentado um pretendente, sir Gerard Hargate e, embora fosse um homem muito bonito, nunca havíamos conversado. Sempre fui contra a corrente e imaginei que isso fosse me trazer mais problemas.
Naquele dia, o protocolo me permitia dialogar com meu pretendente e ele fora, realmente, muito respeitador. Mas [...]"

Interrompi a escrita ao ver N e Megan conversando. Aquilo havia me apertado o peito enquanto eu deitava a caneta em cima do diário, pensativa.
"O diário fica para outra hora... eu gostaria de vê-los de novo, família".

Escolhi ficar em silêncio, ouvindo tudo o que pudesse enquanto tirava o desjejum.

o tempo passa enquanto vocês discutem o plano, e 30 minutos discorrem. Vocês têm mais duas horas e meia.
O sol ilumuna a cidade como um sorriso de bom-dia, e algumas pessoas começam a deixar suas casas para exercerem suas tarefas diárias, como se não desconfiassem de nada.

Timidamente, Megan acena afirmativamente.
- Dessa vez, eu que vou te proteger, papai!

Sorrio para Megan.

"Proteger você é a minha missão, baixinha" digo apertando sua bochecha. "Mas você vai ajudar muito ali"

Sirvo Megan com a comida disponível na casa e me sirvo também.

"Coma direito, hoje o dia vai ser cheio..."

( Stein, eu estava sozinha? Achei que a Sanna e o povo todo estava numa reunião, onde eu me enfiei.... fiquei falando aos ventos e-e)

Saio do prédio, então suspiro. Seria uma tarefa um pouco difícil. Afinal como conseguir a confiança deles sem que alguém os delatasse? Caminhando, busco por alguma pessoa na rua.

Off: Você imaginou certo, era isso mesmo, Gabi, é que agora a Sanna se retirou pra providenciar o plano de vocês, pra dar tempo de ele ser executado
On: Gwen percebe que a cidade logo ganha vida. Muitas pessoas deixam suas casas de enxadas nas mãos, utensílios de marcenaria ou carriolas de frutas e legumes. Uma criança passa em frente a casa de vocês, levando um vaca numa cordinha esfarrapada. Ninguém parece olhar de forma agressiva para vocês, mesmo vocês sendo muito diferentes deles. Certamente, é porque sabiam que vocês eram convidados de Sanna, ou algo do tipo.
- Flores, minha senhora? - pergunta jovem de estatura mediana, usando uma capa de viagem, os cabelos bagunçados e um olhar divertido. - Essa é um presente - ele estende uma rosa para Gwen, sorrindo.
A cidade era cheia de pobreza e fome...mas havia alegria oculta naqueles corpos fracos e naquela terra invisivel ao governo.

Assim que terminamos o café, procuro por Gwen junto com Megan.

"Gwen, certo? Vou te ajudar a levar essas pessoas para o local seguro" digo, não fazendo um pedido.

"Preciso garantir que seja um lugar seguro mesmo..." penso.

– Certo, vou usar esse tempo para preparar a maior quantidade possível – Assim que foram se dispersando em suas funções, chamou o tecnomago: – Dakato, parece que temos o mesmo caminho. Esse tal veículo aéreo de vocês, seria uma grande vantagem. Vamos tentar recuperá-lo, e voltar para varrer essas tropas dessa cidade. Se possível, fazê-los voltar para Arsin – Concluiu.
Tomou seu rumo, mal olhou no mapa, conhecia muito bem aquelas ruas. Claro que a irmã possuía maior capacidade para gerenciar e representar os terrenos e planos de movimentação. Contudo, ele detinha a própria orientação da região. Aquela área era um amontoado de casas, comércios e toda a sorte de construções abandonadas pela falta de recursos; mescla com mais alguns focos rurais nas redondezas, pouco prósperos.
Conhecimento que aprendeu ali para driblar patrulhas, e, mais tarde, usou por toda a Eliyn para agarrar acusados.
Cruzou com a pistoleira ainda na cozinha. Sentou-se e puxou um pedaço de pão para comer. O modo automático de olhar e calcular divisões estava nele desde a infância. Fosse armazenando, preparando ou servindo as refeições, repartir em múltiplas contagens provava ser crucial para a sobrevivência. Abocanhou um canto, mastigou, rolou e engoliu. Lembrou que aquele era mais seco. Levantou, passou pelo café servido na hora, e encheu o copo com água da torneira. Voltou ao seu assento, tirou dois saches do bolso, rasgou e misturou no líquido. Sorriu quando percebeu que já erguia o recipiente aberto para chacoalhar como fazia com seus frascos; apenas girou o copo levemente, provocando rotações na solução. O transparente mudou para o laranja, e o aroma cítrico se espalhou acanhado na presença de cafeína. Sorveu com vontade.
– Então, moça, você vem com a gente para tentar fazer aquela coisa alçar voo?

Guardo o diário me segurando para não retocar o batom, apesar de confiar na durabilidade do material. Era como se tivesse nascido com aquilo dentro de mim e isso me aborrecia.
Estava tão distraída com meus pensamentos que quase não havia notado a chegada de Desmond, apenas dando tempo de observar suas feições enquanto chacoalhava o copo de café:

- Oh, queira me desculpar pela distração, sr... como seria seu nome mesmo? - mais uma golada do café que agora estava morno pela demora em bebê-lo enquanto escrevia - Pretendo fazer com que Epoch possa cruzar os céus novamente. Sua estréia não foi como esperávamos, hahaha. E como está o restante do plano? Sinto que perdi uma parte ou outra.

Meus olhos passavam da caneca de café para Desmond e logo saltavam para Megan que deixava os cabelos loirinhos balançarem enquanto se dirigia junto com N para encontrar a linda moça dos cabelos escorridos, Gwen.

como normalmente, não há nada de muito diferente, exceto pelo fato de que aquela poderia ser a última refeição de minha vida. E do outro lado aparentemente não havia nada muito melhor. Precisava se preparar com decência.

- Não creio que seja uma boa estratégia senhor... Acabo de notar que não sei seu nome. Mas um único veículo aéreo, sem um piloto experiente com certeza seria um alvo fácil de abater.

Passa-se mais algum tempo, enquanto vocês tomam café e se organizam, quando Sanna reaparece no local.
- Bem, já combinei com meus homens. Nesse exato momento, tenho algumas equipes bloqueando diversas entradas da cidade e formando termópilas aqui, aqui e aqui - ela aponta no mapa de N sobre a mesa. - Tenho postos de observação que nos avisarão sobre possíveis incursões da FASE, devemos estar preparados - Sanna entrega um pequeno comunicador, parecido com um walkie-talkie. - Roubamos isso da FASE há pouco tempo, usem para se comunicarem. É isso que nos alertará em caso de ataque, fiquem atentos.
Ela caminha em direção ao pessoal da cozinha, tomando para si um copo de café bem cheiro.
- Decidiram algum plano de ataque? Já foram ver seu pássaro voador?

Dakato contrariou a ideia, o alquimista respondeu:
– Só Desmond – Notou a confiança dela em relação a recuperação do veículo, diferentemente das palavras do estudioso. Justo foi responder, logo que foi atendido. – Estamos analisando nossas chances reais, então está indo bem. Vamos travar as principais passagens como o N idealizou, cedendo caminhos traiçoeiros que possamos cobrir com nossos ataques combinados dos maiores prédios e construções. Os preparativos são os escombros, bombas ácidas, e o conserto dessa máquina; além de evacuar o pessoal para o subterrâneo, a garota ali que pensou nessa última parte – Aponta com um balanço do copo na direção da druida que saia. – É o plano que temos, e eu ouvi que vocês caíram porque foram abatidos, estou errado? – O homem era desconfiado como qualquer recruta – Quem faz, sabe usar. Essa aqui vai aprender rápido – Falou da aprendiz do inventor. Terminou o pão, cortou uma fatia de queijo. Engoliu tudo com o resto da bebida. – Vamos indo. Precisa de prática, vai ver só.
Levantou para partir, dando uns tapas de coleguismo no ombro do rapaz. Sanna voltava.

acabo de comer, bebendo café como se não houvesse amanhã, e pelo andar da carruagem, não haveria mesmo.

- vamos andando, se conseguirmos fazer alguma coisa decente com a máquina, é provável que sirva como veículo de fuga.

Levo Megan até o local subterraneo onde estão sendo levados os civis que não lutarão.

"Lembre-se Meg, você não está só se escondendo com eles aqui, a sua missão é ficar tranquila e ajudar os outros a ficarem tranquilos também" digo a ela, num tom sério.

"Está com a sua kunai? Lembre-se de que ela é pra se defender, não atacar" nunca imaginaria que Megan teria qualquer pensamento assassino, mas eu mesmo nunca foi um bom modelo.

"Papai vai subir e te deixar lá. Mas vou levar isso aqui" digo, tirando de dentro da camisa da Fase, a bandeira da Cinza repintada por ela.

Sorrio. "Essa é a nossa bandeira"

A deixo no abrigo e volto para a casa em seguida.

- Oh, bom dia, senhora Sanna. Sinto pela demora, acabei me distraindo enquanto bebia meu café. Vou até a Epoch agora e creio que esses senhores irão junto comigo.

Pensativa, pego a flor e em agradecimento sorrio.

- Obrigada.... mas você disse um presente ? - Um pouco confusa por não ser acostumada a ganhar presentes, ainda mais de estranhos.


( Conforme for passando os post, vou citando os seus Isaac)

- Uma flor para outra, certo? - o jovem pisca ladinamente para Gwen, e você sente um perfume doce com sua voz. O rapaz tem os cabelos longos, acinzentados, envergando uma capa vermelha de viagem em um florete escondido sob a peça. - Sou Liriel D. Flourite, é um prazer conhecê-la, senhorita...?

Megan acena positivamente, obstinada, mostrando a kunai para seu pai. A menina aguarda para ser levada por Gwen, e N parte com o grupo para a oficina.

O grupo que vai até a oficina, passa por uma Cidade das Pobres Almas miserável. Existem alguns estabelecimentos por onde vocês passam, vendendo pães secos, água, carnes. frutas e legumes, estes frescos, tirados das pequenas plantações que circundam a cidade. As casas que vocês vêm estão bastante castigadas, com suas janelas encarquilhadas, paredes de pedra gastas e portas que quase não fecham.
Alguns trabalhadores passam pelas ruas, vendendo suas mercadorias, se encaminhando para suas plantações. Apesar da pobreza, vocês notam sorrisos e gentilezas. Não fosse por esse fato, pelo calor que emana daqueles corações sofridos e daqueles olhos que pareciam sonhar com um futuro melhor, a cidade seria completamente cinza.
Passando pelas ruas de terra batida, o grupo finalmente alcança um enorme galpão com uma única porta de metal erguida. Lá dentro, uma lona escura cobre o que parece ser Epoch. Aos fundos, sob bancadas infinitas, vocês podem encontrar frascos de alquimia, ferramentas mecânicas e acessórios de proteção. Certamente, aquela era a maior riqueza da Malha de Ferro.
- Yo, parceiros - diz Todd, que parece mexer com tubo de ensaio e uma solução borbulhante, trajando um jaleco branco e óculos de proteção.

Corro em direção à ephoc como um louco e sou dois cascudos na lavaria e seguido ao silêncio digo uma única palavra






-pixie????

- Muita gentileza sua... - Sorrio de canto, encenando ja que não acreditava em estranhos, mas precisava de alguém para me ajudar a buscar os mais frágeis para leva-los ao tal abrigo improvisado. Pego a flor, cheirando-a enquanto o observo de canto. - Pode me chamar apenas de Gwen... Você mora por aqui ?

Durante o caminho, fito cada pedaço, memorizando. A cidade tinha um certo brilho que só era possível de ser visto se despido de todas os conceitos do continente superior. Era necessário esquecer um pouco a "classe" e a etiqueta.

Ao passar por uma barraca, pego uma fruta e deixo três moedas douradas no balcão, sorrindo discretamente para uma pequena senhora que tentava vender seus itens. Mais adiante pego cinco pãezinhos e deixo uma moeda para cada, dessa vez, para um homem de pele queimada, olhos bem claros e uma barba por fazer adornada por uma trança com duas pedrinhas azuladas.

Guardo os itens e continuo seguindo pelas ruas.
Pisco o olho esquerdo sempre que vejo alguma cena, como se meu olho fosse o obturador de uma máquina fotográfica de Arsin. Eu estava feliz por poder conhecer e ajudar aquele povo que a história era muito mais rica que seus próprios bolsos mas igualmente ignorada pela sociedade que vivia nas nuvens.
Apesar da seriedade do que estávamos prestes a executar a Cat Audrey estava mais desperta do que o normal sorrindo de orelha a orelha por dentro por poder conhecer com seus próprios pés o mundo abaixo do seu.

Ao chegarmos no grande galpão meu coração descompassa. Sim! Uma oficina! "Cornellius iria amar esse local..!", penso, enquanto me aproximo, fazendo o cumprimento de uma dama à Todd:

- Olá, senhor! - me distraio, indo em direção à grande lona - Isso seria Epoch? Oh, agradeço desde já por terem cuidado dessa beleza construída por exímias mãos. Um olhar para o progr...

Até hoje me perguntou se foi influência do local ou se foi o meu bom-senso que gritou para que não continuasse a proclamar sobre o progresso. Afinal, aquele povo nunca havia sido apresentado nem para um chuveiro elétrico, quanto mais para o progresso em si.
Havia maravilhas nas construções, disso eu sabia. Mas havia maravilhas no antigo. A arquitetura, a história, as lendas, as vidas. Aquilo também tinha valor.
Devo agradecer a quem por não ter me atropelado com palavras?