Fragmentos 9o Capitulo

"Todos os vivos de hoje são verdadeiros sobreviventes.
Espero viver em uma época onde os monstros são ficção e os governos olham por nós.
Mas eu já ficaria feliz em ver o sol nascer novamente..." Ryu Niijima, sobrevivente.

Toda guerra tem seus soldados. Estes em especifico possuem coisas demais a perder para sequer pensar em morrer...mas cada um quer juntar os pedaços a sua maneira.

1o Interlúdio - Sociável

Cwaro esperava do lado de fora do quarto de Jack. A garota estava preocupada com ele pois já era seu terceiro ataque de fúria na semana.
Jack era uma das pessoas mais interessantes que conhecera, mesmo ela possuindo amnésia, e não conseguia imaginar o porquê de alguém aparentemente tão estável quanto o atirador poderia perder o controle de uma hora para outra.

Cwaro tomou um susto quando Weyr tocou sem ombro direito. O meio-monstro também tinha a mesma pele pálida e as duas marcas vermelhas que ela tinha.
"Novamente?"
Ela apenas acenou positivamente.
"Me sinto mal por ele. Ele parecia começar a ter controle essa semana. O Scott disse que o convivio constante conosco ia ajudar mas..." Weyr parou ao ouvir mais algo se quebrando no quarto de Jack.

...

Jack estava deitado. Havia adormecido no chão em volta das coisas que havia quebrado, não que houvessem muitos móveis, mas o desperdicio atingia sua moral.

"Jack?" Cwaro bateu na porta. O atirador lembrava dela ter o ajudado a chegar no quarto. Se sentia ainda mais culpado ao perceber que ele esteve ali fora desde a hora em que a crise começara.
Dessa vez não segurou as lágrimas. A depressão repentina sempre vinha em seguida do acesso de fúria.

Antigamente era fácil lidar com essas reações quando estava sozinho e matava invernais, mas agora ele tinha que viver numa sociedade.
Era uma sociedade que o aceitava e entendia muito bem sobre traumas e seus membros tinham o respeitoso costume de respeitar o espaço e a distância de seu próximo. Mesmo assim, Jack se sentia desconfortável por ser tão instável.

"Se sente melhor?" Cwaro continuou batendo.
"Sim" Jack conseguiu achar sua grave voz e responder.
"Posso entrar?" seu tom de voz demonstrava certa aflição.
"Dois minutos" Jack se levantou, sentindo os músculos doloridos, e balançando a cabeça para afastar os pensamentos ruins e abrir a porta. Os efeitos da depressão repentina já começavam a ficar mais suaves. Jack conseguia pensar melhor agora.

Cwaro encarou o rosto cheio de cicatrizes do jovem Jack. "Quantos anos será que ele tem?" pensou ela também se perguntando como alguém tão novo poderia ter tantas cicatrizes. Mas se ela tinha as duas grandes marcas vermelhas abaixo de seus olhos, quem seria ela para questionar esse tipo de coisa...

"Não me dê esse olhar C. Eu estou bem" Jack quebrou o silêncio e começou a massagear sua testa.
Cwaro sorriu e passou a mão sobre a franja de seu cabelo castanho.

"Quer a sua arma agora? Você pediu pra segurar" C usava a correia e o velho rifle no ombro direito. Jack acenou positivamente e o pegou. "O pessoal conseguiu caçar umas cabras das montanhas. Quer jantar?" Ele acenou novamente e a acompanhou pelos túneis subterranênos.

Os meio-montros não tinham as mesmas necessidades físicas de um humano comum. Pelo menos não tão urgentes. Cada meio-monstro podia ficar meses sem sentir falta de qualquer caloria. Cwaro as vezes fazia piada com Jack "É muito mais dificil emagrecer". O atirador sabia que a garota se importava realmente com ele, as vezes de forma exagerada, mas ele se sentia desconfortável com esse tipo de situação. Se esforçava para sorrir, mas C sempre notava que ele nunca ria.
Um jantar muitas vezes era mais um luxo para os meio-monstros do que algo realmente necessário.

A maior parte da comunidade subterrânea estava sentada em volta da gigantesca mesa retangular, aproximadamente uns cinquenta meio-monstros. Não era um banquete, mas a maioria deles parecia feliz e com vontade de comemorar.
Desde que chegara Jack notara que pelo menos trinta na comunidade eram mulheres. A origem deles ainda era algo nebuloso porque poucos falavam sobre a época anterior a chegada nas montanhas. Mas o atirador tinha quase certeza de que um dia eles eram como ele...

"Olá Jack! Sente-se conosco" Weyr ofereceu um lugar a sua direita "Se quiser é claro"

Os únicos olhares que Jack recebeu foram os olás e sorrisos dos mais próximos. Eles ignoravam as crises dele.

Nunca o assassino havia encontrado um lugar de tanta paz e segurança como aquela casa subterranea. Talvez...talvez ele pudesse trazer mais gente. Haviam tantos que estavam cansados do mundo que se tornou cacos.

Mas primeiro Jack precisava achar uma cura para si mesmo.

Fim do 1o Interlúdio

2o Interlúdio - A música verdadeira

Larq estava deitado em seu quarto, um apertado cômodo em um apartamento do subúrbio de Parnaq, e jogava a bola de tênis para cima para pega-la em seguida. O baixista ainda não havia tirado a roupa social preta.

"Mike e Karol nem apareceram" pensou ele em uma mistura de raiva e tristeza. Os dois amigos não haviam aparecido desde que ele se recusou a se juntar eles na...

Larq se levantou da cama, afastando os pensamentos melancólicos.
"Por que te mataram Paul? Por que?" ele se perguntou pela milésima vez.

Apenas querendo afastar estes pensamentos, ele pegou uma foto em sua escrivaninha e a guardou no bolso do paletó, tirou seu baixo da cadeira, guardou na capa e o colocou nas costas.
Ele ainda podia carregar a música e as lembranças de seus amigos.

...

Larq pensou em ir ao mesmo bar onde haviam tocado. "Uma noite épica" pensou ele, mas teve a sensatez de ir para um outro bar em uma região perto do subúrbio de Parnaq.
O baixista não temia nada mas algo o fazia se sentir inseguro, talvez uma conspiração que conseguisse até mesmo tocar.

Na bancada, pediu apenas um café puro, quando dois homens de terno se aproximaram. Usavam a insignia da Ordem em broches bem discretos.

"Por acaso o senhor é Larq" disse o homem na esquerda com um tom suave, mas o da direita encarava friamente o jovem loiro.

"Sim" ele disse começando a se virar, mas o brutamontes que o encarava segurou seu ombro. Estancando, Larq apenas segurou seu copo de café com força.

"Está preso por envolvimento com traidores. A Ordem requesita sua prisão imediata" disse o homem franzino da voz suave.

Larq já tinha escutado histórias sobre agentes do governo que prendiam gente 'subversiva', mas isso parecia mais papo de rockeiro inconformado com o sistema do que a realidade. Mas a ameaça era bem real agora e ele tinha pouco tempo para reagir.
O som do carro freiando bruscamente desviou a atenção dos agentes, mas os tiros da submetralhadora do encapuzado no banco do carona com certeza é que deram a brecha para que Larq jogasse o café quente no brutamontes e começasse a correr em direção da cozinha. A chuva de balas e a troca de tiros continuou por mais trinta segundos.

Larq correu pela cozinha e saiu pelo lado de trás do bar. Ofegante, correu para a primeira esquina escura que encontrou. Ele estava agora em território escuro, e em Parnaq isso significava 'pular de cabeça no abismo'.

Fim do 2o Interlúdio

3o Interlúdio - N de Nulo

O velho contou que tinha 51 anos e que era um empresário. Megan dormia na pequena cama no único comodo da moradia temporária que N e ela descobriram.

"Não me disse ainda o que fazia ontem a noite por esses becos" N cruzava os braços enquanto o sol começava a nascer no horizonte.

"É um assunto pessoal...mas salvou minha vida meu jovem. Eu estava procurando pelo meu filho" o semblante do velho era de tristeza quase palpável.

"E pelo visto ele não veio para o lado escuro de Parnaq em busca de atividades 'licítas'. Eu só achor senhor...." N alongava a ultima palavra em busca do nome do velho

"Daniels" ele respondeu

"Então senhor Daniels, eu só acho que sozinho você não poderia acha-lo" N estranhava a situação, se colocando no lugar de quem dava a bronca ele se lembrava de seus antigos superiores "Deixe-me imaginar: você se desesperou e contradizendo a polícia quis investigar sozinho"

"Eu tinha seguranças, mas nenhum deles queria me acompanhar. Todos covardes. Demiti a todos" N notou que Daniels parecia ser alguém bem rico.

"E no final o vigilante desconhecido te salva...meio cliche não acha?" um meio sorriso se formava no rosto de N.
"Você usa roupas de um...agente" Daniels mudou de assunto ao notar a roupa cinza do vigilante.
"Sim. Vou começar a cobrar por essas respostas também velhote"
"Mas eu posso lhe pagar com proteção. Se é um ex-agente precisa de proteção, e a garota..."
"Você não pode pagar pela proteção de um ex-agente. E está errado, eu não era um agente da Ordem, eu era algo pior..."

...

N amarrava Megan, ainda sonolenta, em suas costas enquanto Daniels tentava sinal em seu celular.
"Pode esquecer velhote, nada por aqui. Vamos atravessar até o seu bairro a pé. Vou fazer o trajeto mais longo, mas é o que você vai aguentar. Alguma pergunta?"

"Essa arma, o que ela é?" o senhor disse apontando para Risco, o cabo de metal que escondia a lâmina de katana.
"Um protótipo que não é da sua conta"
"Quem sabe quando chegarmos em casa" Daniels parecia otimista.
"Se você cumprir o seu trato..."

Fim do 3o Interlúdio