Fator Gênese - Capitulo 3
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Fator Gênese - Capitulo 3
É isso ai aldeãos, mais um capítulo de Fator Gênese para vocês darem uma uma olhada. Sintam-se a vontade para exporem suas opiniões, darem dicas, fazerem crítica, enfim.
Ah, uma informação interessante: não é certeza ainda, mas é provável que o Capítulo 2, na parte que fala sobre o Universo Verdadeiro, será DUBLADO POR UMA EQUIPE DE DUBLADORES PROFISSIONAIS o/
Boa leitura e que os bons ventos continuem nos conduzindo assim ;]
- Para o Universo, a vida humana não passa de um breve instante, talvez menos do que o tempo de um único segundo seria para nós - disse Nero, de forma audível, enquanto o grupo de pessoas observava-o atentamente.
O cientista virou-se para o quadro negro atrás de si e com um giz branco começou a riscar a lousa. Quando terminou, o público viu que desenhara cinco símbolos distintos, dispostos em forma de cruz, quatro deles nas pontas e um maior no centro.
- Desde os primórdios da humanidade, tentamos explicar o mundo usando nossas próprias experiências - retomou o palestrante, sua voz demonstrava segurança e ele parecia conduzir uma aula. - Há cerca de quinze mil anos, antes que o homem sequer fosse capaz de construir suas primeiras armas com pedras lascadas, ele descobriu o fogo. Para ele, aquilo era algo sobrenatural, inexplicável. Ou talvez devêssemos dizer "divino"? - ele apontou a figura na parte inferior da cruz, onde se podia ler "fogo", em letras maiúsculas. - Dessa forma, o homem acostumou-se a deificar tudo o que não compreendia ou era importante para suas tarefas diárias, e logo tínhamos deuses destinados a cada fenômeno que observávamos.
Os mais dignos de nota são, claramente, aqueles que representam os elementos naturais, de onde os místicos acreditam terem surgido todas as coisas - no quadro negro, era possível notar que cada ponta da cruz trazia um símbolo, representando o fogo, a terra, a água e o ar.
Quando um terremoto fazia tremer o solo, uma chuva torrencial revivia campos inférteis ou um relâmpago rasgava o céu, o homem tinha certeza de que aquilo era obra dos deuses.
Ainda que ninguém lhe instruísse, se uma criança fosse abandonada em uma ilha deserta, ela certamente deduziria a existência de um ser mais poderoso que rege sua vida e faz o mundo “funcionar”. O impulso por acreditar em uma forma de deidade é uma importante característica humana, ainda que inconsciente, pois foi ela que nos tornou o que somos hoje.
Nero fez uma pausa estratégica de alguns segundos, deixando que o público assimilasse as informações. A maestria com que conduzia seu discurso era admirável.
- Existe algo que está intrincado em nossa mente, um conhecimento primitivo que nos acompanha desde o nascimento – continuou. - A essência que recebemos de Helyna, quando a Deusa concebeu a humanidade, nos garantiu três características importantes, entre elas o conhecimento inconsciente do divino e o livre arbítrio. Este último nos permite seguir o caminho que acharmos mais interessante, aprender com nossos erros, criar o conceito de bem e mal e desenvolvermos nosso próprio modo de controlar as forças do mundo. O poder da escolha nos deu a chance de estudarmos os fenômenos naturais por outro ângulo. Agora tínhamos certeza da existência dos deuses, mas não era uma crença cega, pois havíamos chegado até a fonte, e isso também despertou em nós o anseio por usar essas forças ao nosso favor.
Enquanto o cientista falava, vários espectadores faziam anotações frenéticas em seus blocos de papel, como alunos aplicados.
- O terceiro elemento da natureza humana, e talvez o mais gritante, é desenvolvido através da compreensão de seus dois antecessores. Nós sabemos que, diferente dos animais, os homens são criaturas capazes de racionalizar sobre o mundo à sua volta. Se pudéssemos imaginar um homem e um rato, ambos com a tarefa de chegarem até suas respectivas casas, e perguntássemos ao roedor se ele conhece o caminho que precisa percorrer, ele responderia negativamente. Porém, sem que saiba isso, o pequeno animal conhece a direção que deve tomar com perfeição, seja guiando-se pelo cheiro ou forma do que observa pelo caminho. Inconscientemente, quando chegasse a hora de aplicar essa habilidade, um gatilho em seu cérebro despertaria o conhecimento e o conduziria até sua toca. Isso é o que chamamos de instinto. - Nero fez uma nova pausa, e fitou uma garota sentada na última fileira de bancos, detendo seu olhar por alguns instantes antes de voltar à palestra. - Já o homem teria o poder de nos responder sim ou não, pois ele tem a chance de procurar em suas memórias e recorda-se o caminho de casa. Além disso, ele pode nos apontar que não há apenas um meio correto, mas vários e mesmo que ele nunca tenha seguido por outro alternativo, usando sua imaginação ele seria capaz de nos descrever o percurso ao menos de forma aproximada.
Sendo assim, chegamos à conclusão que a diferença primordial entre um homem e um rato está no fato de o primeiro conseguir racionalizar. Nós não apenas detemos um conhecimento, mas sabemos que o possuímos. Essa forma privilegiada de ver o mundo é algo que conhecemos como consciência, o que nos diferencia do restante das criações divinas. Compreendendo os fenômenos que regem o mundo, aprendemos a manipular a magia e, por fim, desenvolvemos a tecnologia, uma ciência usada como base para darmos origem às nossas próprias criações - disse o cientista, com evidente satisfação e orgulho, apontando o símbolo no centro da cruz, onde se lia "essência”. - Este é o dom que permite ao homem libertar-se da condição de simples criatura e ascender ao estado de criador. O Fator Gênese.
Houve novo burburinho entre o público que assistia a apresentação quando o sino da catedral foi tocado, anunciando o fim da tarde. Levantando-se de seus bancos, diversos homens foram cumprimentar o cientista, elogiando suas palavras. Todos eles trajavam ternos bem cortados, alguns usavam chapéus ou cartolas, e aparentavam serem pessoas cultas da alta sociedade. Quando todos já haviam se retirado do recinto, entre comentários acalorados sobre a palestra, Nero notou a aproximação da jovem que permanecera na última fileira.
Possuidora de uma beleza estonteante, a garota usava os cabelos castanhos amarrados por uma trança única, que descia pelas costas, e o corpo atlético sugeria ser, talvez, uma esportista.
- Vejo que minhas palestras não são assistidas apenas pelos cientistas idosos. Acho que é a primeira vez que uma dama me dá essa honra - brincou, recolhendo seu material de apresentação.
- Parece que a cada minuto nesse lugar aprendo algo novo - comentou Blair, deixando escapar um sorriso.
- Você não é de Arsin, é?
- Não, sou só uma viajante curiosa - mentiu.
- Interessante, mas a curiosidade por si só não tem o poder de trazer alguém até aqui - devolveu o cientista, observando a reação de Blair, num misto de diversão e desafio.
- Uma garota nunca conta seus segredos - respondeu piscando um dos olhos, simulando confidência.
Nero rio e disse estar curioso sobre o que ela achara de sua apresentação. Porém, antes que Blair respondesse, Liar irrompeu pela porta da catedral, aparentando estar aliviado ao ver a guerreira.
- Então você estava aqui! - disse com dificuldade, arfando e tentando recuperar o fôlego. Ao ver o cientista, o jovem dobrou um dos joelhos e curvou o corpo, em sinal de respeito. - Peço permissão para levá-la, senhor.
- Fique à vontade - respondeu Nero e despediu-se. - Foi um prazer tê-la em minha apresentação, espero receber essa graça novamente um dia - Blair apenas sorriu e saiu da catedral, acompanhada de Liar.
Como ela havia notado ao chegar a Arsin, ali o tempo decorria de forma diferente, talvez mais lentamente, se comparado ao seu mundo de origem. Quando visitara o amigo na taverna, a noite já havia se estabelecido, o que só viria a acontecer dentro de algumas horas na Grande Capital.
- Você faz idéia de com quem estava conversando, tão amigavelmente, lá atrás? – Liar perguntou, em tom irônico.
- Não, mas era um homem encantador, diferente de alguns donos de tavernas que encontramos por ai – respondeu a garota, provocando-o.
- Aquele é Arias Nero – explicou, ignorando o comentário -, talvez seja o homem mais culto de Arsin. O povo possui muito apresso por ele, dizem que tem um dom insuperável para a oratória.
Blair assentiu, concordando, e contou a Liar sobre o que ouvira a respeito do Fator Gênese.
- Nero é um gênio – comentou, Liar - sua compreensão do Universo está muito além das pessoas comuns, mesmo para aquelas que vivem em Arsin.
O movimentos nas ruas diminuíra bastante em relação a tarde. A maioria das pessoas já havia chegado a suas casas e se ocupavam com seus próprios assuntos, descansando após o dia cheio. Blair também sentia o cansaço lhe atingir aos poucos, as pernas começavam a doer pelo longo caminho que fizera desde o deserto e o corpo dolorido evidenciava as noites mal dormidas, nas raras vezes em que encontrara um lugar seguro para fazer de abrigo.
O dois caminharam pela cidade até chegarem a uma hospedaria. O lugar era bastante limpo, construído com blocos de pedra brancos e madeira, oferecendo um ar medieval ao edifício. Havia uma escada em uma das paredes laterais, que levava ao depósito no andar superior, de onde um grupo de trabalhadores trazia algumas caixas de suprimentos. Quando adentraram o local, Blair e Liar puderam sentir um cheiro inconfundível de temperos e carne assada, sugerindo que o jantar estava sendo preparado.
Liar ofereceu ao dono da estalagem algumas moedas de prata, e logo ele e a garota estavam sentados em uma mesa próxima à lareira, aguardando a refeição noturna. Não havia muitos inquilinos nas mesas e sofás, dispostos no salão de entrada onde eles se encontravam, o que tornava o local reservado.
- Como foi a reunião com o Conselho? – perguntou Blair, enquanto uma moça bem jovem lhes trazia a refeição.
- Nada de mais, só queriam ter certeza de que eu havia lhe trazido comigo em segurança. Disseram que aplicarão um teste em você amanhã, pela manhã, para constatar sua aptidão.
Aquele procedimento, Blair sabia, era compreensível. Não raro, o contratante decidia constatar as habilidades de seus mercenários, variando a forma como fazia isso de acordo com o trabalho que oferecia.
- Você ainda não me disse para o que, especificamente, essa tal Ordem precisa de mim.
- Adiantaria se eu dissesse apenas que o pagamento é irrecusável? – arriscou Liar, tentando mudar de assunto, mas notou, pela expressão séria no rosto da guerreira, que seria difícil faze-la desistir da resposta. – O Conselho me ordenou que não revelasse nada antes de sua aprovação, como uma medida de segurança, pois não podemos deixar que pessoas de fora obtenham informações sigilosas. Então, peço que você mantenha segredo – ele se aproximou e continuou em um tom mais baixo. - Lembra-se do caso envolvendo os cientistas que pesquisavam a cura do câncer, que comentei com você mais cedo? – a garota assentiu. – Como havia lhe dito, a Ordem de Camael é responsável por fazer vista grossa a eventos semelhantes que ocorrem em mundos diferentes, como nesse caso. Os pesquisadores agiram da mesma forma suspeita em mais dois mundos, além de nossa terra natal, e um deles é justamente Arsin, o que certamente lhes rendeu uma boa quantia em dinheiro. Seria ótimo se esse fosse o único problema.
- O motivo de preocupação é o que eles fizeram com tanto dinheiro...
- Exato, e é ai que você entra. Quando disseram que precisavam de alguém experiente em infiltrações, automaticamente o seu nome me veio à mente. Eles confiaram em meu julgamento, pois já trabalhamos juntos, e decidiram conhecer suas habilidades.
- De quanto dinheiro estamos falando?
- Eles prometerão lhe pagar 50 mil peças de ouro, caso cumpra a missão. Mesmo que trabalhe como mercenária por toda a vida, dificilmente arrecadaria essa quantia.
Blair ponderou. O valor oferecido era absurdamente alto para uma tarefa de investigação, sugerindo que, ou o Conselho estaria desesperado por ajuda, ou haviam mentido sobre a quantia. Quando o contratante revelasse a ela um valor mais baixo, esperaria seu pronunciamento, e assim saberia se Liar havia contado ou não algo sobre a missão.
Após jantarem, os dois se dirigiram ao andar superior da hospedaria, onde ficavam os quartos. Blair notou que as paredes do lugar eram revestidas por uma mistura invisível de cheiro doce e agravável, que conferia um efeito tranquilizador, uma óbvia estratégia do proprietário para agradar a clientela, que em sua grande maioria era composta por viajantes cansados vindos de outros mundos.
Ao chegarem no quarto, Liar apresentou o lugar à garota e disse que haviam algumas roupas em um armário ao lado do beliche, explicando que, como era um usuário frequente dos serviços da estalagem, decidira alugar aquele aposento de forma fixa havia um tempo. Para todos os efeitos, aquele espaço funcionava como sua casa.
Blair pousou na cama de baixo do beliche o saco de viagem que trazia consigo e entrou no banheiro. Despiu-se das vestes sujas pela areia do deserto que atravessara e deixou que as gotas quentes de água aliviassem o cansaço de seu corpo. De olhos fechados, permaneceu parada embaixo do chuveiro por um longo tempo, refletindo sobre o dia louco que tivera até ali. Estava feliz por rever Liar, depois de tantos anos, e ansiosa pelo teste que viria no dia seguinte. Nesse momento, as palavras do palestrante pareciam fazer ainda mais sentido. O poder para escolhermos nosso próprio caminho.
Após o banho, Blair deixou que Liar fizesse o mesmo e foi deitar-se. Precisava descansar os músculos, pois a viagem até Arsin fora realmente longa e cansativa. Assim, com o cheiro suave das paredes, a guerreira relaxou o corpo e se deixou levar por um sono profundo.
- Onde estou? – perguntou a si mesma, observando o ambiente à sua volta. Estava montada no enorme lobo cinzento e um vento forte bagunçava seus cabelos castanhos. Enquanto tentava compreender sua situação, a garota percebeu algo inesperado.
Do alto da colina onde estava, ela tinha visão privilegiada para uma enorme batalha que acontecia na campina mais abaixo. Enquanto diversas criaturas, que Blair não soube identificar, travavam um combate fantástico, a jovem focou sua atenção em uma enorme máquina de guerra que se movia pesadamente.
A criatura de metal parecia ter vida própria, foi construída usando um modelo humanóide, corpulento, e disparava projéteis explosivos pelo campo de batalha, levantando colunas de fogo sobre a terra.
No céu, uma bela mulher, de longos cabelos e ruivos, empunhava uma alabarda de haste dourada, envergando uma armadura imponente de mesma natureza. A figura guerreira possuía enormes asas brancas, o que lhe concediam um vôo ligeiro e movimentação impressionante.
Blair.
Em um giro rápido, a celestial desceu em direção à criatura mecânica. A enorme lâmina de sua arma tornou-se gradualmente vermelha, como se fervesse pelo atrito com o ar, tamanha era a velocidade que atingia.
Como se previsse o impacto, o robô de guerra levantou os dois pesados braços de aço em direção à sua agressora e disparou uma rajada de explosivos em sua direção.
Com maestria, a lanceira interrompeu a descida e fechou as duas asas ao redor do corpo, mantendo-se no ar apenas pela própria aura mística que emanava. Os projéteis atingiram o alvo, gerando uma cortina de fumaça tóxica, que foi repelida com facilidade quando a guerreira alada reabriu as asas com violência.
Blair.
Empunhando a alabarda, ela avançou com tamanha velocidade que Blair sequer pode acompanhar o percurso. Quando se deu conta, a celestial estava de costas, atrás do gigante de metal, enquanto os dois membros superiores da criatura tombavam no chão, criando uma depressão no solo pelo impacto.
Antes que a máquina de guerra pudesse revidar, seu algoz girou a arma sobre a cabeça e, em um giro preciso, partiu o monstro de mais de dez metros de altura em duas partes, com um golpe de cima para baixo.
Vitoriosa, a combatente bateu as asas e tomou impulso para alçar vôo novamente. Porém, antes que seus pés saíssem do chão, uma enorme mão robótica, de um segundo oponente, agarrou sua cabeça.
Instintivamente, a celestial soltou a alabarda e começou a se debater, desesperada, na tentativa de escapar do perigo iminente. Mas era inútil. Com um aperto potente, o monstro de aço desfragmentou o crânio de sua presa e alvejou-lhe o tronco com balas especiais, que estilhaçaram a couraça dourada com facilidade.
Surpresa pela batalha titânica, Blair não percebeu a presença de um homem que também observava a peleja da colina, a uma dezena de metros de distância dali. Apenas quando o lobo cinzento rosnou na direção da figura misteriosa, a garota virou a cabeça para ver quem era.
Blair!
Quando se deu conta, ela percebeu que estava de volta ao quarto da estalagem. Não conseguira identificar quem era o outro observador.
- Você dorme como uma pedra! – disse Liar, vestindo seu traje habitual da Ordem. – Aconselho você a se aprontar, faltam menos de duas horas para o teste.
Ainda desnorteada pela visão, Blair cumprimentou o amigo com um desejo de bom dia e levantou-se da cama. Caminhou até o banheiro, abriu o registro da pia e lavou o rosto com água gelada, despertando por completo.
Ela se deteve por um instante, observando seu reflexo no espelho. Amarrou os cabelos em uma trança única, como sempre fazia, e trocou as roupas por algumas peças que trazia no saco de viagem. Como ainda não havia compreendido o sonho por completo e não querendo perder a concentração para o teste, Blair decidiu não contar nada ao amigo. Faria isso apenas quando fosse aprovada pela Ordem.
Antes de partirem, eles desceram as escadas até o andar térreo e tomaram o desjejum. Liar estranhou a expressão séria e reservada de sua amiga, mas concluiu que era apenas efeito do nervosismo. Ele tentou acalma-la e disse que, com as habilidades que a guerreira possuía, o sucesso no teste estava garantido. Blair sorriu, reconhecendo a preocupação do rapaz.
Enquanto os dois jovens conversam e tentavam se distrair, o sol começava a se elevar no leste, tingindo as ruas com uma cor alaranjada. Quando o sino da catedral tocou seis vezes, anunciando o horário matutino, Blair e Liar deixaram a hospedaria e se prepararam para cruzar a cidade. As ruas já mostravam sinais de movimento, enquanto várias lojas iniciavam suas atividades e as pessoas deixavam suas casas para cumprirem suas rotinas diárias. Blair não entendia como aqueles trabalhadores conseguiam suportar fazer exatamente a mesma coisa todos os dias, vivendo apenas para satisfazerem um protocolo social. Ela tinha orgulho de onde viera e da vida que tivera até ali, pois, apesar de tudo, lhe possibilitara conhecer segredos fantásticos e lugares com que muitas pessoas sequer seriam capazes de sonhar. A justiça do destino é algo relativo para cada um, e ela estava satisfeita com até onde sua sorte a levara.
A Ordem de Camael residia em um imenso domo, no centro de Arsin. O edifício fora construído em concreto e uma série de colunas sustentavam o teto abobadado, trazendo em relevo imagens que remetiam aos Quatro Pilares, uma alusão à sustentação do Universo através das forças divinas.
Internamente, as paredes revestidas de mármore branco refletiam a luz do sol que entrava pelas janelas circulares, iluminando completamente o ambiente.
Blair reparou no grande volume de pessoas que formavam filas em frente aos balcões de atendimento, espalhados de forma estratégica pelo recinto, e Liar lhe explicou que a Ordem funcionava como representante absoluta da lei em Arsin, sendo responsável, entre outras tarefas, pelos assuntos jurídicos.
- Meu nome é Liar e desejo falar com o Conselho. Tenho um assunto muito importante a tratar com a Ordem. – disse ele a uma das balconistas.
Ao ser-lhe solicitada uma identificação, Liar apresentou o pingente que trazia consigo, e pela primeira vez Blair conseguiu identificar o símbolo moldado na peça: um conjunto de três engrenagens entrelaçadas, emolduradas por inscrições místicas onde se lia “Aqueles que observam o mundo”.
A atendente pediu que a acompanhassem, conduzindo-os até um local ao fundo do domo. A mulher tocou uma parte específica da parede com a palma da mão esquerda, onde estava tatuada uma pequena runa, e uma espécie de portal foi aberto no mármore, distorcendo aquele ponto da parede. Aquele era um método de segurança, para que as pessoas comuns fossem incapazes de alcançar o coração da Ordem.
Ao passarem pelo portal, eles experimentaram a sensação de atravessarem uma película aquosa e fria, uma característica comum daquele fenômeno. Quando chegaram ao local onde funcionava o Conselho, Blair deparou-se com uma grande câmara circular. O paredão de pedra lisa emoldurava uma arquibancada que rodeava o recinto, onde se encontravam os membros da Ordem, homens de aparência culta, todos vestindo roupas escuras, como era característico dos integrantes da organização.
No teto, era possível contemplar uma pintura que abrangia toda sua extensão, retratando o momento da criação do mundo através do sopro de uma linda mulher, uma alusão poética ao momento em que Helyna concebera o Universo.
- Estão atrasados – a voz rouca de um homem de idade avançada ecoou pelas paredes circulares. O líder da Ordem de Camael usava uma túnica azul-escura e preta, com detalhes dourados, e sentava-se em um palanque, como um juiz prestes a presenciar um julgamento. Tinha os cabelos e a longa barba muito brancos e sentava-se curvado em sua cadeira alta, observando os recém-chegados por trás de seus óculos de meia-lua. Ao seu redor, sentados em um nível abaixo, encontravam-se alguns membros importantes da organização, e entre eles havia alguém que Blair já conhecia.
Ah, uma informação interessante: não é certeza ainda, mas é provável que o Capítulo 2, na parte que fala sobre o Universo Verdadeiro, será DUBLADO POR UMA EQUIPE DE DUBLADORES PROFISSIONAIS o/
Boa leitura e que os bons ventos continuem nos conduzindo assim ;]
Capitulo 3 – A Ordem de Camael
- Para o Universo, a vida humana não passa de um breve instante, talvez menos do que o tempo de um único segundo seria para nós - disse Nero, de forma audível, enquanto o grupo de pessoas observava-o atentamente.
O cientista virou-se para o quadro negro atrás de si e com um giz branco começou a riscar a lousa. Quando terminou, o público viu que desenhara cinco símbolos distintos, dispostos em forma de cruz, quatro deles nas pontas e um maior no centro.
- Desde os primórdios da humanidade, tentamos explicar o mundo usando nossas próprias experiências - retomou o palestrante, sua voz demonstrava segurança e ele parecia conduzir uma aula. - Há cerca de quinze mil anos, antes que o homem sequer fosse capaz de construir suas primeiras armas com pedras lascadas, ele descobriu o fogo. Para ele, aquilo era algo sobrenatural, inexplicável. Ou talvez devêssemos dizer "divino"? - ele apontou a figura na parte inferior da cruz, onde se podia ler "fogo", em letras maiúsculas. - Dessa forma, o homem acostumou-se a deificar tudo o que não compreendia ou era importante para suas tarefas diárias, e logo tínhamos deuses destinados a cada fenômeno que observávamos.
Os mais dignos de nota são, claramente, aqueles que representam os elementos naturais, de onde os místicos acreditam terem surgido todas as coisas - no quadro negro, era possível notar que cada ponta da cruz trazia um símbolo, representando o fogo, a terra, a água e o ar.
Quando um terremoto fazia tremer o solo, uma chuva torrencial revivia campos inférteis ou um relâmpago rasgava o céu, o homem tinha certeza de que aquilo era obra dos deuses.
Ainda que ninguém lhe instruísse, se uma criança fosse abandonada em uma ilha deserta, ela certamente deduziria a existência de um ser mais poderoso que rege sua vida e faz o mundo “funcionar”. O impulso por acreditar em uma forma de deidade é uma importante característica humana, ainda que inconsciente, pois foi ela que nos tornou o que somos hoje.
Nero fez uma pausa estratégica de alguns segundos, deixando que o público assimilasse as informações. A maestria com que conduzia seu discurso era admirável.
- Existe algo que está intrincado em nossa mente, um conhecimento primitivo que nos acompanha desde o nascimento – continuou. - A essência que recebemos de Helyna, quando a Deusa concebeu a humanidade, nos garantiu três características importantes, entre elas o conhecimento inconsciente do divino e o livre arbítrio. Este último nos permite seguir o caminho que acharmos mais interessante, aprender com nossos erros, criar o conceito de bem e mal e desenvolvermos nosso próprio modo de controlar as forças do mundo. O poder da escolha nos deu a chance de estudarmos os fenômenos naturais por outro ângulo. Agora tínhamos certeza da existência dos deuses, mas não era uma crença cega, pois havíamos chegado até a fonte, e isso também despertou em nós o anseio por usar essas forças ao nosso favor.
Enquanto o cientista falava, vários espectadores faziam anotações frenéticas em seus blocos de papel, como alunos aplicados.
- O terceiro elemento da natureza humana, e talvez o mais gritante, é desenvolvido através da compreensão de seus dois antecessores. Nós sabemos que, diferente dos animais, os homens são criaturas capazes de racionalizar sobre o mundo à sua volta. Se pudéssemos imaginar um homem e um rato, ambos com a tarefa de chegarem até suas respectivas casas, e perguntássemos ao roedor se ele conhece o caminho que precisa percorrer, ele responderia negativamente. Porém, sem que saiba isso, o pequeno animal conhece a direção que deve tomar com perfeição, seja guiando-se pelo cheiro ou forma do que observa pelo caminho. Inconscientemente, quando chegasse a hora de aplicar essa habilidade, um gatilho em seu cérebro despertaria o conhecimento e o conduziria até sua toca. Isso é o que chamamos de instinto. - Nero fez uma nova pausa, e fitou uma garota sentada na última fileira de bancos, detendo seu olhar por alguns instantes antes de voltar à palestra. - Já o homem teria o poder de nos responder sim ou não, pois ele tem a chance de procurar em suas memórias e recorda-se o caminho de casa. Além disso, ele pode nos apontar que não há apenas um meio correto, mas vários e mesmo que ele nunca tenha seguido por outro alternativo, usando sua imaginação ele seria capaz de nos descrever o percurso ao menos de forma aproximada.
Sendo assim, chegamos à conclusão que a diferença primordial entre um homem e um rato está no fato de o primeiro conseguir racionalizar. Nós não apenas detemos um conhecimento, mas sabemos que o possuímos. Essa forma privilegiada de ver o mundo é algo que conhecemos como consciência, o que nos diferencia do restante das criações divinas. Compreendendo os fenômenos que regem o mundo, aprendemos a manipular a magia e, por fim, desenvolvemos a tecnologia, uma ciência usada como base para darmos origem às nossas próprias criações - disse o cientista, com evidente satisfação e orgulho, apontando o símbolo no centro da cruz, onde se lia "essência”. - Este é o dom que permite ao homem libertar-se da condição de simples criatura e ascender ao estado de criador. O Fator Gênese.
Houve novo burburinho entre o público que assistia a apresentação quando o sino da catedral foi tocado, anunciando o fim da tarde. Levantando-se de seus bancos, diversos homens foram cumprimentar o cientista, elogiando suas palavras. Todos eles trajavam ternos bem cortados, alguns usavam chapéus ou cartolas, e aparentavam serem pessoas cultas da alta sociedade. Quando todos já haviam se retirado do recinto, entre comentários acalorados sobre a palestra, Nero notou a aproximação da jovem que permanecera na última fileira.
Possuidora de uma beleza estonteante, a garota usava os cabelos castanhos amarrados por uma trança única, que descia pelas costas, e o corpo atlético sugeria ser, talvez, uma esportista.
- Vejo que minhas palestras não são assistidas apenas pelos cientistas idosos. Acho que é a primeira vez que uma dama me dá essa honra - brincou, recolhendo seu material de apresentação.
- Parece que a cada minuto nesse lugar aprendo algo novo - comentou Blair, deixando escapar um sorriso.
- Você não é de Arsin, é?
- Não, sou só uma viajante curiosa - mentiu.
- Interessante, mas a curiosidade por si só não tem o poder de trazer alguém até aqui - devolveu o cientista, observando a reação de Blair, num misto de diversão e desafio.
- Uma garota nunca conta seus segredos - respondeu piscando um dos olhos, simulando confidência.
Nero rio e disse estar curioso sobre o que ela achara de sua apresentação. Porém, antes que Blair respondesse, Liar irrompeu pela porta da catedral, aparentando estar aliviado ao ver a guerreira.
- Então você estava aqui! - disse com dificuldade, arfando e tentando recuperar o fôlego. Ao ver o cientista, o jovem dobrou um dos joelhos e curvou o corpo, em sinal de respeito. - Peço permissão para levá-la, senhor.
- Fique à vontade - respondeu Nero e despediu-se. - Foi um prazer tê-la em minha apresentação, espero receber essa graça novamente um dia - Blair apenas sorriu e saiu da catedral, acompanhada de Liar.
Como ela havia notado ao chegar a Arsin, ali o tempo decorria de forma diferente, talvez mais lentamente, se comparado ao seu mundo de origem. Quando visitara o amigo na taverna, a noite já havia se estabelecido, o que só viria a acontecer dentro de algumas horas na Grande Capital.
- Você faz idéia de com quem estava conversando, tão amigavelmente, lá atrás? – Liar perguntou, em tom irônico.
- Não, mas era um homem encantador, diferente de alguns donos de tavernas que encontramos por ai – respondeu a garota, provocando-o.
- Aquele é Arias Nero – explicou, ignorando o comentário -, talvez seja o homem mais culto de Arsin. O povo possui muito apresso por ele, dizem que tem um dom insuperável para a oratória.
Blair assentiu, concordando, e contou a Liar sobre o que ouvira a respeito do Fator Gênese.
- Nero é um gênio – comentou, Liar - sua compreensão do Universo está muito além das pessoas comuns, mesmo para aquelas que vivem em Arsin.
O movimentos nas ruas diminuíra bastante em relação a tarde. A maioria das pessoas já havia chegado a suas casas e se ocupavam com seus próprios assuntos, descansando após o dia cheio. Blair também sentia o cansaço lhe atingir aos poucos, as pernas começavam a doer pelo longo caminho que fizera desde o deserto e o corpo dolorido evidenciava as noites mal dormidas, nas raras vezes em que encontrara um lugar seguro para fazer de abrigo.
O dois caminharam pela cidade até chegarem a uma hospedaria. O lugar era bastante limpo, construído com blocos de pedra brancos e madeira, oferecendo um ar medieval ao edifício. Havia uma escada em uma das paredes laterais, que levava ao depósito no andar superior, de onde um grupo de trabalhadores trazia algumas caixas de suprimentos. Quando adentraram o local, Blair e Liar puderam sentir um cheiro inconfundível de temperos e carne assada, sugerindo que o jantar estava sendo preparado.
Liar ofereceu ao dono da estalagem algumas moedas de prata, e logo ele e a garota estavam sentados em uma mesa próxima à lareira, aguardando a refeição noturna. Não havia muitos inquilinos nas mesas e sofás, dispostos no salão de entrada onde eles se encontravam, o que tornava o local reservado.
- Como foi a reunião com o Conselho? – perguntou Blair, enquanto uma moça bem jovem lhes trazia a refeição.
- Nada de mais, só queriam ter certeza de que eu havia lhe trazido comigo em segurança. Disseram que aplicarão um teste em você amanhã, pela manhã, para constatar sua aptidão.
Aquele procedimento, Blair sabia, era compreensível. Não raro, o contratante decidia constatar as habilidades de seus mercenários, variando a forma como fazia isso de acordo com o trabalho que oferecia.
- Você ainda não me disse para o que, especificamente, essa tal Ordem precisa de mim.
- Adiantaria se eu dissesse apenas que o pagamento é irrecusável? – arriscou Liar, tentando mudar de assunto, mas notou, pela expressão séria no rosto da guerreira, que seria difícil faze-la desistir da resposta. – O Conselho me ordenou que não revelasse nada antes de sua aprovação, como uma medida de segurança, pois não podemos deixar que pessoas de fora obtenham informações sigilosas. Então, peço que você mantenha segredo – ele se aproximou e continuou em um tom mais baixo. - Lembra-se do caso envolvendo os cientistas que pesquisavam a cura do câncer, que comentei com você mais cedo? – a garota assentiu. – Como havia lhe dito, a Ordem de Camael é responsável por fazer vista grossa a eventos semelhantes que ocorrem em mundos diferentes, como nesse caso. Os pesquisadores agiram da mesma forma suspeita em mais dois mundos, além de nossa terra natal, e um deles é justamente Arsin, o que certamente lhes rendeu uma boa quantia em dinheiro. Seria ótimo se esse fosse o único problema.
- O motivo de preocupação é o que eles fizeram com tanto dinheiro...
- Exato, e é ai que você entra. Quando disseram que precisavam de alguém experiente em infiltrações, automaticamente o seu nome me veio à mente. Eles confiaram em meu julgamento, pois já trabalhamos juntos, e decidiram conhecer suas habilidades.
- De quanto dinheiro estamos falando?
- Eles prometerão lhe pagar 50 mil peças de ouro, caso cumpra a missão. Mesmo que trabalhe como mercenária por toda a vida, dificilmente arrecadaria essa quantia.
Blair ponderou. O valor oferecido era absurdamente alto para uma tarefa de investigação, sugerindo que, ou o Conselho estaria desesperado por ajuda, ou haviam mentido sobre a quantia. Quando o contratante revelasse a ela um valor mais baixo, esperaria seu pronunciamento, e assim saberia se Liar havia contado ou não algo sobre a missão.
Após jantarem, os dois se dirigiram ao andar superior da hospedaria, onde ficavam os quartos. Blair notou que as paredes do lugar eram revestidas por uma mistura invisível de cheiro doce e agravável, que conferia um efeito tranquilizador, uma óbvia estratégia do proprietário para agradar a clientela, que em sua grande maioria era composta por viajantes cansados vindos de outros mundos.
Ao chegarem no quarto, Liar apresentou o lugar à garota e disse que haviam algumas roupas em um armário ao lado do beliche, explicando que, como era um usuário frequente dos serviços da estalagem, decidira alugar aquele aposento de forma fixa havia um tempo. Para todos os efeitos, aquele espaço funcionava como sua casa.
Blair pousou na cama de baixo do beliche o saco de viagem que trazia consigo e entrou no banheiro. Despiu-se das vestes sujas pela areia do deserto que atravessara e deixou que as gotas quentes de água aliviassem o cansaço de seu corpo. De olhos fechados, permaneceu parada embaixo do chuveiro por um longo tempo, refletindo sobre o dia louco que tivera até ali. Estava feliz por rever Liar, depois de tantos anos, e ansiosa pelo teste que viria no dia seguinte. Nesse momento, as palavras do palestrante pareciam fazer ainda mais sentido. O poder para escolhermos nosso próprio caminho.
Após o banho, Blair deixou que Liar fizesse o mesmo e foi deitar-se. Precisava descansar os músculos, pois a viagem até Arsin fora realmente longa e cansativa. Assim, com o cheiro suave das paredes, a guerreira relaxou o corpo e se deixou levar por um sono profundo.
- Onde estou? – perguntou a si mesma, observando o ambiente à sua volta. Estava montada no enorme lobo cinzento e um vento forte bagunçava seus cabelos castanhos. Enquanto tentava compreender sua situação, a garota percebeu algo inesperado.
Do alto da colina onde estava, ela tinha visão privilegiada para uma enorme batalha que acontecia na campina mais abaixo. Enquanto diversas criaturas, que Blair não soube identificar, travavam um combate fantástico, a jovem focou sua atenção em uma enorme máquina de guerra que se movia pesadamente.
A criatura de metal parecia ter vida própria, foi construída usando um modelo humanóide, corpulento, e disparava projéteis explosivos pelo campo de batalha, levantando colunas de fogo sobre a terra.
No céu, uma bela mulher, de longos cabelos e ruivos, empunhava uma alabarda de haste dourada, envergando uma armadura imponente de mesma natureza. A figura guerreira possuía enormes asas brancas, o que lhe concediam um vôo ligeiro e movimentação impressionante.
Blair.
Em um giro rápido, a celestial desceu em direção à criatura mecânica. A enorme lâmina de sua arma tornou-se gradualmente vermelha, como se fervesse pelo atrito com o ar, tamanha era a velocidade que atingia.
Como se previsse o impacto, o robô de guerra levantou os dois pesados braços de aço em direção à sua agressora e disparou uma rajada de explosivos em sua direção.
Com maestria, a lanceira interrompeu a descida e fechou as duas asas ao redor do corpo, mantendo-se no ar apenas pela própria aura mística que emanava. Os projéteis atingiram o alvo, gerando uma cortina de fumaça tóxica, que foi repelida com facilidade quando a guerreira alada reabriu as asas com violência.
Blair.
Empunhando a alabarda, ela avançou com tamanha velocidade que Blair sequer pode acompanhar o percurso. Quando se deu conta, a celestial estava de costas, atrás do gigante de metal, enquanto os dois membros superiores da criatura tombavam no chão, criando uma depressão no solo pelo impacto.
Antes que a máquina de guerra pudesse revidar, seu algoz girou a arma sobre a cabeça e, em um giro preciso, partiu o monstro de mais de dez metros de altura em duas partes, com um golpe de cima para baixo.
Vitoriosa, a combatente bateu as asas e tomou impulso para alçar vôo novamente. Porém, antes que seus pés saíssem do chão, uma enorme mão robótica, de um segundo oponente, agarrou sua cabeça.
Instintivamente, a celestial soltou a alabarda e começou a se debater, desesperada, na tentativa de escapar do perigo iminente. Mas era inútil. Com um aperto potente, o monstro de aço desfragmentou o crânio de sua presa e alvejou-lhe o tronco com balas especiais, que estilhaçaram a couraça dourada com facilidade.
Surpresa pela batalha titânica, Blair não percebeu a presença de um homem que também observava a peleja da colina, a uma dezena de metros de distância dali. Apenas quando o lobo cinzento rosnou na direção da figura misteriosa, a garota virou a cabeça para ver quem era.
Blair!
Quando se deu conta, ela percebeu que estava de volta ao quarto da estalagem. Não conseguira identificar quem era o outro observador.
- Você dorme como uma pedra! – disse Liar, vestindo seu traje habitual da Ordem. – Aconselho você a se aprontar, faltam menos de duas horas para o teste.
Ainda desnorteada pela visão, Blair cumprimentou o amigo com um desejo de bom dia e levantou-se da cama. Caminhou até o banheiro, abriu o registro da pia e lavou o rosto com água gelada, despertando por completo.
Ela se deteve por um instante, observando seu reflexo no espelho. Amarrou os cabelos em uma trança única, como sempre fazia, e trocou as roupas por algumas peças que trazia no saco de viagem. Como ainda não havia compreendido o sonho por completo e não querendo perder a concentração para o teste, Blair decidiu não contar nada ao amigo. Faria isso apenas quando fosse aprovada pela Ordem.
Antes de partirem, eles desceram as escadas até o andar térreo e tomaram o desjejum. Liar estranhou a expressão séria e reservada de sua amiga, mas concluiu que era apenas efeito do nervosismo. Ele tentou acalma-la e disse que, com as habilidades que a guerreira possuía, o sucesso no teste estava garantido. Blair sorriu, reconhecendo a preocupação do rapaz.
Enquanto os dois jovens conversam e tentavam se distrair, o sol começava a se elevar no leste, tingindo as ruas com uma cor alaranjada. Quando o sino da catedral tocou seis vezes, anunciando o horário matutino, Blair e Liar deixaram a hospedaria e se prepararam para cruzar a cidade. As ruas já mostravam sinais de movimento, enquanto várias lojas iniciavam suas atividades e as pessoas deixavam suas casas para cumprirem suas rotinas diárias. Blair não entendia como aqueles trabalhadores conseguiam suportar fazer exatamente a mesma coisa todos os dias, vivendo apenas para satisfazerem um protocolo social. Ela tinha orgulho de onde viera e da vida que tivera até ali, pois, apesar de tudo, lhe possibilitara conhecer segredos fantásticos e lugares com que muitas pessoas sequer seriam capazes de sonhar. A justiça do destino é algo relativo para cada um, e ela estava satisfeita com até onde sua sorte a levara.
A Ordem de Camael residia em um imenso domo, no centro de Arsin. O edifício fora construído em concreto e uma série de colunas sustentavam o teto abobadado, trazendo em relevo imagens que remetiam aos Quatro Pilares, uma alusão à sustentação do Universo através das forças divinas.
Internamente, as paredes revestidas de mármore branco refletiam a luz do sol que entrava pelas janelas circulares, iluminando completamente o ambiente.
Blair reparou no grande volume de pessoas que formavam filas em frente aos balcões de atendimento, espalhados de forma estratégica pelo recinto, e Liar lhe explicou que a Ordem funcionava como representante absoluta da lei em Arsin, sendo responsável, entre outras tarefas, pelos assuntos jurídicos.
- Meu nome é Liar e desejo falar com o Conselho. Tenho um assunto muito importante a tratar com a Ordem. – disse ele a uma das balconistas.
Ao ser-lhe solicitada uma identificação, Liar apresentou o pingente que trazia consigo, e pela primeira vez Blair conseguiu identificar o símbolo moldado na peça: um conjunto de três engrenagens entrelaçadas, emolduradas por inscrições místicas onde se lia “Aqueles que observam o mundo”.
A atendente pediu que a acompanhassem, conduzindo-os até um local ao fundo do domo. A mulher tocou uma parte específica da parede com a palma da mão esquerda, onde estava tatuada uma pequena runa, e uma espécie de portal foi aberto no mármore, distorcendo aquele ponto da parede. Aquele era um método de segurança, para que as pessoas comuns fossem incapazes de alcançar o coração da Ordem.
Ao passarem pelo portal, eles experimentaram a sensação de atravessarem uma película aquosa e fria, uma característica comum daquele fenômeno. Quando chegaram ao local onde funcionava o Conselho, Blair deparou-se com uma grande câmara circular. O paredão de pedra lisa emoldurava uma arquibancada que rodeava o recinto, onde se encontravam os membros da Ordem, homens de aparência culta, todos vestindo roupas escuras, como era característico dos integrantes da organização.
No teto, era possível contemplar uma pintura que abrangia toda sua extensão, retratando o momento da criação do mundo através do sopro de uma linda mulher, uma alusão poética ao momento em que Helyna concebera o Universo.
- Estão atrasados – a voz rouca de um homem de idade avançada ecoou pelas paredes circulares. O líder da Ordem de Camael usava uma túnica azul-escura e preta, com detalhes dourados, e sentava-se em um palanque, como um juiz prestes a presenciar um julgamento. Tinha os cabelos e a longa barba muito brancos e sentava-se curvado em sua cadeira alta, observando os recém-chegados por trás de seus óculos de meia-lua. Ao seu redor, sentados em um nível abaixo, encontravam-se alguns membros importantes da organização, e entre eles havia alguém que Blair já conhecia.
Última edição por Stein em Sex Fev 10, 2012 9:59 am, editado 2 vez(es)
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Re: Fator Gênese - Capitulo 3
Pow manolo,esse teste vai ser perrenha,esse foi um capitulo muito bem feito,gostei muito,digno de um escritor como você.
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Re: Fator Gênese - Capitulo 3
Finalmente li... HUHAUHAUHAUAH
de novo isso me lembra os trailers de diablo 3...
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Re: Fator Gênese - Capitulo 3
Valeu caras ^^
Hahaha LG, minha mente funciona em CG kk
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Re: Fator Gênese - Capitulo 3
Ficando bom cara
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Re: Fator Gênese - Capitulo 3
Relaxa que esses são os textos sem revisão, os revisados estão apenas em meu poder ;]
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