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Quando me param para perguntar qual meu estilo literário penso em tantos que não consigo citar um em que eu caiba.
Todos os dias, a Sílvia vinha dizer das escolas. O romantismo, o futurismo, o arcadismo. Tantos ismos para o vestibular. Dizia isso, claro, salientando que os alunos deveriam saber pelo menos para o que serviam e suas diferenças.
Mas, ao mesmo tempo, escondido na obrigação, ela dizia que aquilo era lindo, sublime. Ou ama ou odeia! Não existia meio-termo, não existia meia-poesia, existia a arte, o irredutível, o humano, aquilo que doía o peito...
Todos os dias, eu caçava poesias. Ouvia com um dos ouvidos o que ela dizia e meus olhos
embotavam lágrimas sinceras! Mas chorar na sala de aula é motivo de risada dos outros.
Então, abria o caderno velho, a capa esfarrapada. Era nele que despejaria cada lágrima.
A caneta, que pecado escrever de lápis! A poesia é definitiva! Ela nasce e tenta um vôo e, se tiver
sucesso, voará tão longe quanto sua imaginação. Talvez ela tropece, talvez ela se espatife! Mas continuará sendo!
Por isso, quando a professora Sílvia arregalava os pequenos olhos e tirava os óculos para nos observar, eu a olhava com espanto. Ela dizia da paixão do homem, do choro dele, tuberculoso, ao escrever uma poesia triste e com um fim prematuro demais.
E então a caneta tratava de registrar.
Eu sou a metalinguística, ela escreve.
A poesia não tem fim, ela repassa.
O eterno é a palavra, ela redige.
E a caneta marca com a tinta azul no papel esbranquiçado. A folha cheia de riscos, assim era a ideia.
Aquele monte de porcaria viria a se tornar algo assombroso. Esconderia cada folha do caderno e quando tivesse a coragem e o ímpeto de revê-las, o choque!
A Sílvia levanta da mesa, ajeita a calça. Ela diz mais uma vez:
Que palavras, que palavras!
Eu concordo, aceno positivamente.
Dar nomes para as poesias, a última parte. Talvez a parte mais difícil.
Sentenciar aquelas palavras... nomearia meus filhos mas aquelas poesias, jamais! Nomes irrelevantes que não causavam interesse. Não se preocupariam com eles, eles lêem o nome como se enxerga um índice de um livro e vão ávidos para a essência.
A essência era tudo, eles sabiam. Tinham de ser rápidos, cautelosos, sugar toda palavra, beber do líquido da criação de uma ideia.
A professora cita Drummond. Eu também.
Um dia, mostrei uma de minhas poesias. Fiquei famosa por uma semana na sala. Vinham pessoas de outras salas copiarem do meu caderno surrado a forma, o empirismo. Toda aquela certeza que eu sentia ao escrever. Toda aquela coisa que, talvez, Drummond também tenha sentido.
É uma coisa que não tem nome. Ela se apossa das palavras e a mão apenas se encarrega de escrevê-las. E é por isso que essa coisa, da qual chamamos as vezes de processo criativo, não possui hora para chegar.
O tempo é uma invenção do homem. A emoção não precisa ser parametrizada, não existe hora para ela aparecer.
E aí, quando ela brota, eu me sinto menos inquieta.
A Sílvia anda de um lado para o outro, uma mão arqueando o livro. A outra acaricia o ar. O óculos vai pendurado no pescoço e o sapato faz aquele barulho específico de salto no piso branco. Ela olha pra mim... se ela soubesse o quanto eu amo o que ela amava!
Mas ela não sabe.
Ninguém sabe.
Meu único confidente, naquela manhã, era Deus.
Deus e o caderno de capa alaranjada. Eu e minhas poesias tortas, sem forma, sem escola, sem gênero, só sentimentos.
Todos os dias, a Sílvia vinha dizer das escolas. O romantismo, o futurismo, o arcadismo. Tantos ismos para o vestibular. Dizia isso, claro, salientando que os alunos deveriam saber pelo menos para o que serviam e suas diferenças.
Mas, ao mesmo tempo, escondido na obrigação, ela dizia que aquilo era lindo, sublime. Ou ama ou odeia! Não existia meio-termo, não existia meia-poesia, existia a arte, o irredutível, o humano, aquilo que doía o peito...
Todos os dias, eu caçava poesias. Ouvia com um dos ouvidos o que ela dizia e meus olhos
embotavam lágrimas sinceras! Mas chorar na sala de aula é motivo de risada dos outros.
Então, abria o caderno velho, a capa esfarrapada. Era nele que despejaria cada lágrima.
A caneta, que pecado escrever de lápis! A poesia é definitiva! Ela nasce e tenta um vôo e, se tiver
sucesso, voará tão longe quanto sua imaginação. Talvez ela tropece, talvez ela se espatife! Mas continuará sendo!
Por isso, quando a professora Sílvia arregalava os pequenos olhos e tirava os óculos para nos observar, eu a olhava com espanto. Ela dizia da paixão do homem, do choro dele, tuberculoso, ao escrever uma poesia triste e com um fim prematuro demais.
E então a caneta tratava de registrar.
Eu sou a metalinguística, ela escreve.
A poesia não tem fim, ela repassa.
O eterno é a palavra, ela redige.
E a caneta marca com a tinta azul no papel esbranquiçado. A folha cheia de riscos, assim era a ideia.
Aquele monte de porcaria viria a se tornar algo assombroso. Esconderia cada folha do caderno e quando tivesse a coragem e o ímpeto de revê-las, o choque!
A Sílvia levanta da mesa, ajeita a calça. Ela diz mais uma vez:
Que palavras, que palavras!
Eu concordo, aceno positivamente.
Dar nomes para as poesias, a última parte. Talvez a parte mais difícil.
Sentenciar aquelas palavras... nomearia meus filhos mas aquelas poesias, jamais! Nomes irrelevantes que não causavam interesse. Não se preocupariam com eles, eles lêem o nome como se enxerga um índice de um livro e vão ávidos para a essência.
A essência era tudo, eles sabiam. Tinham de ser rápidos, cautelosos, sugar toda palavra, beber do líquido da criação de uma ideia.
A professora cita Drummond. Eu também.
Um dia, mostrei uma de minhas poesias. Fiquei famosa por uma semana na sala. Vinham pessoas de outras salas copiarem do meu caderno surrado a forma, o empirismo. Toda aquela certeza que eu sentia ao escrever. Toda aquela coisa que, talvez, Drummond também tenha sentido.
É uma coisa que não tem nome. Ela se apossa das palavras e a mão apenas se encarrega de escrevê-las. E é por isso que essa coisa, da qual chamamos as vezes de processo criativo, não possui hora para chegar.
O tempo é uma invenção do homem. A emoção não precisa ser parametrizada, não existe hora para ela aparecer.
E aí, quando ela brota, eu me sinto menos inquieta.
A Sílvia anda de um lado para o outro, uma mão arqueando o livro. A outra acaricia o ar. O óculos vai pendurado no pescoço e o sapato faz aquele barulho específico de salto no piso branco. Ela olha pra mim... se ela soubesse o quanto eu amo o que ela amava!
Mas ela não sabe.
Ninguém sabe.
Meu único confidente, naquela manhã, era Deus.
Deus e o caderno de capa alaranjada. Eu e minhas poesias tortas, sem forma, sem escola, sem gênero, só sentimentos.
Aleleeh- Imperatriz de Jade
- Data de inscrição : 22/12/2012
Idade : 28
Localização : Sampa - SP
Emprego/lazer : Designer de Interiores e Artista
O que sou
Raça: Fada
Classe: Samurai
Re: --------------------
Ficou muito bom! Acho que você capturou a essência de todo mundo que gosta muito de escrever. Quem olha de fora, quem só ler ms não encontra prazer na escrita, dificilmente vai entender que para o escritor as palavras têm vida própria, qud o texto corre solto sem que a gente consiga controlar.
Fiquei inspirado! XD
Fiquei inspirado! XD
Stein- Alquimista
- Data de inscrição : 21/10/2011
Idade : 34
Localização : São Paulo, San Rafaello Park
Emprego/lazer : Arquiteto da Matrix - um salve, mano Asimov
O que sou
Raça: Humano
Classe: Alquimista
Re: --------------------
Fui um renegado da literatura nos tempos de escola, pois aprendi a amar a escrever somente anos depois de terminar o ensino médio.
Mas hoje eu compreendo o amor que alguns professores tinham pelos seus livros. Talvez hoje eu entendesse porque falam tão bem de Drummond, de Machado de Assis.
Mas hoje eu quero criar. Histórias que marquem os corações das pessoas.
Quero que minhas palavras ressoem mais do que eu!
Muito bom Ale, curti muito você não dar um título (existem composições por exemplo que não possuem nome, justamente pelo mesmo motivo que citou )
Mas hoje eu compreendo o amor que alguns professores tinham pelos seus livros. Talvez hoje eu entendesse porque falam tão bem de Drummond, de Machado de Assis.
Mas hoje eu quero criar. Histórias que marquem os corações das pessoas.
Quero que minhas palavras ressoem mais do que eu!
Muito bom Ale, curti muito você não dar um título (existem composições por exemplo que não possuem nome, justamente pelo mesmo motivo que citou )
isaac-sky- Guarda Real
- Data de inscrição : 21/10/2011
Idade : 30
Localização : Entre Nárnia e a Terra Média
Emprego/lazer : Dominar o mundo/ RPG/ SKA
O que sou
Raça: Humano
Classe: Ninja
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