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O Vendedor de Histórias

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Mensagem por Stein Qui Jan 10, 2013 12:27 pm

O Vendedor de Histórias

O pequeno sino na entrada tocou quando o menino fechou a porta atrás de si. Evidentemente, ele não tinha ideia de onde estava. Na verdade, não tinha ideia sobre muitas coisas, e estivera curioso com a pequena loja do outro lado de sua rua, que ninguém parecia visitar a anos.
O menino tomou coragem o bastante para atravessar a entrada, chegando a uma mesa de recepção. Equilibrando-se na ponta dos pés, ele conseguiu alcançar uma campainha e tocou algumas vezes. Nenhuma resposta.
Olhando à sua volta, ele notou as enormes estantes de livros que se estendiam por todas as paredes, dando a impressão que ali poderia muito bem ser uma biblioteca. Havia também estantes menores, que ele conseguia alcançar mais facilmente, formando corredores intermináveis de livros, caixas com rolos suspeitos, vasos velhos e estátuas engraçadas. E poeira, bastante poeira.
O lugar não era muito iluminado, mas isso parecia deixar o garoto mais confiante. Afinal, ninguém veria o estranho livro de gravuras que ele havia apanhado de uma das estantes menores, onde se lia “literatura infantil”. Quem inventava esses nomes afinal? Uma história era uma história, não importava se era contada para um adulto ou uma criança, era isso que seu pai havia lhe dito uma vez.
Mas seu pai já não lhe contava mais histórias. Eram apenas bobagens fictícias.
O menino passou os dedos suavemente sobre a gravura em relevo na capa, que representava um feroz e imponente dragão vermelho, como se preparado para cuspir fogo em quem segurava o livro. Ele achou isso engraçado e deixou escapar um riso. Tapou a boca quando percebeu a estupidez que fizera. E se alguém o pegasse ali, agora, rindo como idiota para o desenho de um dragão em um livro infantil? Alguém de sua idade não deveria se interessar por aquele tipo de leitura, certo? E se...
- Ah, é uma história muito boa, eu lhe garanto.
O susto fez o garoto se sobressaltar, esbarrar na estante e cair no chão, levantando uma fina nuvem de poeira. Seu coração batia tão forte que ele podia sentir seus ouvidos martelarem e um rubor subiu por seu rosto. Ele se virou para encarar o dono da voz, mas tudo que viu foi uma estante de livros, pó e a loja vazia. Será que estava imaginando coisas?
- Precisa de ajuda?
O menino se levantou de um salto, afastando-se alguns passos e olhando para cima. A figura à sua frente era um homem alto, vestido com um manto azul-escuro muito longo. Havia rugas por todas as partes de seu rosto, a barba era quase tão branca quanto os cabelos, mas os olhos traziam um brilho vivo que o menino não conseguia explicar.
- M-me desculpe, eu toquei a-a campainha... – gaguejou o garoto, tentando apontar a mesa de recepção, mas havia avançado tanto no lugar que já não via mais a tal mesa. Desde quando aquela loja se tornara tão grande? – Não sabia que essa biblioteca era sua, eu só estava... – ele ia dizer "lendo", mas notou que havia deixado o livro no chão quando caíra, e o calor subiu por seu rosto ainda mais forte agora.
- Ah, sim – aprovou o sujeito, se curvando para apanhar o livro –, dragões são realmente interessantes, não acha? São grandes, fortes, poderosos! Acho que se não fosse um vendedor, gostaria de ser um dragão.
O garoto piscou algumas vezes, um tanto espantado, sentiu o impulso de concordar, mas se segurou.
- Então... aqui é mesmo uma loja de livros?
O vendedor riu alto, e o menino recuou mais um passo, pensando que ia morrer se seu coração continuasse a bater tão rápido daquele jeito.
- Acho que você pode chamar este lugar de loja, sim. Mas não de livros. Ah, não...
- Então...
- É uma Loja de Histórias.
O garoto franziu o cenho com o absurdo da resposta.
- Mas, qual é a diferença?
- Ah, uma porção delas – respondeu o vendedor, estendendo o livro para o menino, com um sorriso amigável por trás da barba. – Isto é um livro – o garoto aceitou, tomando o objeto nas mãos. – Você pode usá-lo para enfeitar uma estante, para servir de contrapeso, para ocupar as mãos, talvez possa até usá-lo como apoio para a perna quebrada de uma cadeira. Mas... – ele se abaixou muito rápido, quase grudando o próprio rosto ao do garoto, que arregalou os olhos e engoliu em seco – e se eu lhe dissesse que esse livro fala de um dragão e seu enorme tesouro. E se lhe dissesse que há pequenas pessoas que desejariam sair em uma aventura para roubar esse tesouro, e que eles encontrariam amigos, desafios, mistérios, festas e batalhas em sua jornada...até que finalmente ficassem face a face com a terrível criatura e seu hálito fumegante?
O menino conseguia imaginar cada cena. As pessoas, as festas, as aventuras. E principalmente o dragão vermelho. Ele deixou escapar outro sorriso, e mordeu os lábios.
- Isso – o vendedor apontou o dedo para o rosto do menino - é uma das coisas que você pode fazer com uma história.
- Mas...isso é tudo...fantasia...
- Oh, temos um rapaz crescido aqui! Bem...acho que tenho a história certa para você. Venha.
- Mas eu não quero comprar uma... – ele começou, mas o vendedor já havia virado por um corredor de estantes, o deixado sozinho com sua hesitação.
O menino respirou fundo. Olhou ao redor e se convenceu sobre não ter ideia de em qual parte da loja estava, e que poderia ficar perdido ali para sempre sem achar a saída. Decidiu seguir o estranho.
- Uhn, não, esse não... – murmurou o vendedor, e o menino se perguntava como ele havia subido tão depressa aquela enorme escada que levava até uma parte bastante alta de uma das estantes. Aliás, ele não se lembrava de o teto da loja ser tão alto assim.
- Que tipo de liv...quero dizer, histórias, você vende aqui? – arriscou o menino, enquanto olhava o vendedor subir mais alguns lances da escada.
- Ah, de todo tipo. Histórias Infantis. Mistérios. Dramas. Romances. Poesias. Histórias Trágicas...
- Histórias Trágicas?
- Sim.
- Mas, quem leria uma história assim?
- Oh, você se surpreenderia com o interesse das pessoas por histórias trágicas. Arriscaria dizer que é o tipo favorito da maioria.
- Não entendo...
- E nem deveria tentar. Pegue.
O vendedor deixou um livro cair para o menino, que o apanhou e leu o título.
- O que é isso?
- Já notou que você pergunta bastante?
O garoto enrubesceu.
- Não leve a mal, foi um elogio. É uma história sobre um caso de investigação.
- Com detetives?
- Com o detetive.
O garoto decidiu não perguntar mais, bateu a poeira sobre o livro e o folheou. Toda a loja era puro silêncio, as letras dançaram na frente de seus olhos como num filme, e ele mergulhou completamente no conto daquelas personagens tão perspicazes, tão inteligentes e astutas. Ele se sentiu exatamente na mesma sala onde ocorrera o assassinato, fazendo as anotações sobre o caso junto do ajudante do detetive. Em algumas partes, ele próprio era o detetive, e seus olhos se abriram para coisas que antes ele não entendia.
Quando terminou a leitura, o menino não sabia quanto tempo aquilo levara. O vendedor estava sentado no primeiro lance da escada, observando-o sem dizer nada, apenas sorrindo com seus olhos brilhantes.
As estantes da loja pareciam agora, inexplicavelmente, um pouco menores, e o rapaz poderia jurar que outras coisas haviam encolhido. Talvez tivesse lido o livro rápido demais e seus olhos agora o estivessem enganando.
- Divertido, não é? Esse é outro efeito das histórias. Espere aqui, vou buscar algo ainda melhor para você!
O vendedor cruzou rapidamente um corredor de estantes, como se estivesse se divertindo com tudo aquilo. Quando o som dos passos ficou baixo e logo desapareceu, o rapaz se viu sozinho novamente.
Agora, ele notou que conseguia alcançar algumas partes novas da estante. Tendo sua curiosidade vencido a hesitação, apanhou um outro livro, folheou-o e absorveu a história com avidez. Aquele lugar era incrível e as histórias eram incríveis. Não importava se ele estava perdido ali, ou quem era o “vendedor de histórias”. O mundo havia escondido segredos muito maiores por tanto tempo...e durante tanto tempo, tudo esteve ali, ao alcance (ou quase) de suas mãos.
Ele leu história após história, conhecendo personagens que lhe ensinaram a sentir coisas que não sabia existir, vendo lugares sem precisar estar neles. Viajou pelos céus sem saber voar, sentiu o gosto da neve por uma descrição, lutou guerras sem empunhar uma única arma e amou incontáveis vezes sem ter certeza a quem. Conheceu a frustração, o deleite, a raiva, a urgência e a aventura. Experimentou ser um pescador que caçava uma baleia monstruosa, e um sujeito que viajava por outras galáxias com uma máquina estranha. Conheceu um mundo que existia dentro da Terra, e um menino que vivia em um pequeno planeta com sua flor.
O rapaz procurava livros em prateleiras cada vez mais altas, até que passou a usar a escada para percorrer as estantes. Não sabia quantas horas ou dias passara lendo, ou mesmo se havia saído da loja alguma vez e voltado. Não importava. Ali ele conhecia o mundo, experimentava o mundo, e o sentia dentro de si mesmo. Quando percebeu isso, o homem cofiou sua barba curta, devolvendo um pesado livro ao seu lugar na estante.
Faltava algo.
- Ai está você – disse o vendedor de livros, trazendo uma caixa entre as mãos, fechada por um barbante. O homem desceu as escadas, recebendo a caixa e franzindo o cenho, como fazia quando era um menino.
- O que é isso?
- No momento, quase nada.
Achando a resposta estranha demais, o homem abriu a caixa, contemplando seu conteúdo. E sorriu. Com os lábios e com os olhos.
- Não tenho como pagar por nada disso – disse o homem.
- Um vendedor de histórias não deseja dinheiro.
- Então...?
- Você conhece essa resposta tão bem quanto eu.
O pequeno sino na entrada tocou quando o homem fechou a porta atrás de si, respirando o ar frio que dava vida àquela manhã de outono. Ele gostaria de contar ao mundo o que havia aprendido, as histórias que havia conhecido, e mostrar a seu pai o segredo por trás de tudo.
Ele havia, afinal, encontrado aquilo que faltava.
Em suas mãos, o homem carregava uma caixa com quase nada. Dentro dela, não havia histórias, mas folhas de papel em branco, um frasco de tinta e uma pena.
Era tudo que ele precisava.


Última edição por Stein em Sex Jan 11, 2013 6:29 pm, editado 1 vez(es)
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Mensagem por isaac-sky Qui Jan 10, 2013 3:46 pm

Stein, estou aqui paralisado kkk mano, essa é sem dúvida a sua melhor história!!!
Referencia a Hobbit, Sherlock e Mochileiro :exploda-se:
(E curti esse lance de no meio do texto o garoto ter virado homem, uma mudança temporal dentro do texto de forma sutil)

Meus parabens manolo, tenho muito que aprender ainda pra chegar no teu nivel e virar hokage dos escritores kkkkkkkkkk

E seria esse o Dr.Stein do 1o numa versão mais jovem? kkk
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Mensagem por Stein Qui Jan 10, 2013 4:33 pm

Caraca, obrigado cara! ^^
Hobbit, Sherlock, Mochileiros, Moby Dick, O Pequeno Príncipe, Viagem ao Centro da Terra... Foi o conto que eu mais me diverti escrevendo também xisde
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Mensagem por isaac-sky Qui Jan 10, 2013 4:48 pm

Continue essa história véi kkk
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Mensagem por Bgelo Qui Jan 10, 2013 5:48 pm

Não precisa continuar ,ela esta otima assim xisde como uma historia fechada, as veses se mecher estraga xisde Historias boas tem começo meio e fim, e essa ficou perfeita nesse sentido.

Gustav , da uma editada pq o forum deixou o texto feio XD Coloca um espaço entre as linhas e tals
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Mensagem por Stein Qui Jan 10, 2013 5:51 pm

Pior que eu tentei...tentei colocar parágrafo e tudo o mais, mas o fórum insiste em não aceitar xisde
E é uma história fechada mesmo ^^ (acho que gosto mais de escrever histórias curtas)
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Mensagem por isaac-sky Sex Jan 11, 2013 10:33 am

Eu consigo fazer paragrafos de boas aqui no forum '-' kkkkkkkkkkkkkk
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Mensagem por cah_naika Sex Jan 11, 2013 7:02 pm

Quer mesmo que eu comente algo?
Você sabe que escreve muito bem e eu adorei a história
Consigo de verdade entrar na história e imaginar as cenas, os personagens e até ser um deles, mas eu gostaria de mais contos...faz crônicas?
Ótimo trabalho!
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Mensagem por Stein Sex Jan 11, 2013 7:08 pm

Valeu! ^^
O que se aproxima de crônica, seria esse aqui: [Tens de ter uma conta e sessão iniciada para poderes visualizar este link]
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